25 de nov. de 2014

Não se faça de vítima!

"Sou o patinho feio, ninguém cuida de mim." 

Esse patinho, porém, quase nunca é feio nem se encontra 

em estado de total abandono. Ele é só mais um doente de 

vitimismo - patologia psicológica caracterizada pela presença

de um sentimento, ele sim, muito feio: a autopiedade."



O complexo de vítima - a mania de assumir, na vida, a postura de mártir sofredor - é uma das mais insidiosas e destrutivas patologias psicológicas. 

Os que caíram nas garras da autopiedade vão por aí, puxando a carroça dos seus sofrimentos quase sempre imaginários - mas não por isso menos reais - e provocando nos outros enfado e repulsa. 
Isso é muito triste, quando se sabe que tudo o que eles querem é exatamente o contrário: roubar carinho e atenção.

O vitimismo é um poço de sentimentos negativos. Dele surge a tendência para culpar os outros (o pai, a mãe, o irmão, a sociedade, a vida, o mundo, os maus fados, o destino) e fazer deles os responsáveis pelas suas próprias mazelas. 

Dele surgem as couraças de autodefesa que não lhes permitem relaxar e viver de modo saudável suas relações com os outros e consigo mesmos. 
Dele vem a impressão sempre absurda e impossível de que não precisam mudar...

Os outros é que estão errados. 

Ele é a pior das cegueiras, pois destrói na pessoa a autocrítica, o discernimento e a capacidade de avaliação racional das situações.



Demônio de muitas faces, o vitimismo é mestre em matéria de distorção da realidade. Parente próximo da tristeza, quando ele possui uma pessoa, coloca diante de seus olhos um filtro cinza e opaco que a impede de apreciar - e se deleitar - com as cores do mundo.

O vitimismo é doença precoce. 

A análise transacional - uma técnica de psicoterapia - ensina que uma criança, já nos primeiros anos de vida, e a partir do seu contato cotidiano com os adultos, decide qual das seguintes posições existenciais ela assumirá na vida:

Eu não estou ok, os outros estão.

Eu estou ok, os outros não estão.

Não estou ok, os outros também não.

Estou ok, os outros também estão.

Uma vez escolhida a posição, quando a criança cresce, ela será dominante no seu caráter, enquanto as outras, embora podendo coexistir, terão menor peso. 

Destaca-se que a atitude universal na primeira infância é a da "eu não estou ok, os outros estão". 

Assim sendo, a pessoa poderá permanecer fixada nessa posição ou, segundo a educação recebida, passar a uma das outras três. 

Explicando melhor:

- "Eu não estou ok, os outros estão." 

Essa pessoa se sente inferior aos outros e tenderá à depressão. Ela ainda permanece na mesma posição da sua primeira infância.

- "Eu estou ok, os outros não." 

É a pessoa que culpa os outros pelas suas misérias. Essa posição costuma ser assumida pelas crianças maltratadas com brutalidade, que concluem: "Quando estou sozinho, estou muito bem. Não preciso de ninguém, deixem-me só." 
Esta posição é, em geral, baseada no ódio, mesmo quando ele está bem camuflado. 
Desse grupo fazem parte, com freqüência, os delinqüentes, os fanáticos e os criminosos.

- "Eu não estou ok, os outros também não." 

Essa pessoa não sente nenhum interesse pela vida. É abúlica e depressiva. 
É uma posição assumida por aqueles que não receberam suficiente calor e atenção nos primeiros anos e escolhe os amigos, o cônjuge, esperando que ele seja propenso a desempenhar o papel complementar.

NÃO SOMOS LIVRES como acreditamos ser. 

Quando se entende isso, fica evidente que a maior parte dos nossos atos e pensamentos não é tão livre de condicionamentos como gostamos de acreditar. 

Nossa certeza de sermos livres, de fazermos tudo aquilo que queremos, e quando queremos, é quase sempre uma ilusão. 
Quase todos, na verdade, carregamos dentro, condicionamentos mais ou menos ocultos que, com freqüência, tornam difícil a manifestação de uma honestidade genuína, uma criatividade livre, uma intimidade simples e pura.

Posição existencial é, portanto, um papel que o indivíduo tenderá a representar ao longo da sua vida. 

É preciso sublinhar o fato de que todas as posições existenciais necessitam de pelo menos duas pessoas, cujos papéis combinem entre si. 

O algoz, por exemplo, não pode continuar a sê-lo sem ao menos uma vítima. 
A vítima procurará seu salvador e este último uma vítima para salvar.

O condicionamento para o desempenho de um dos papéis é bastante sorrateiro e trabalha de forma invisível. 
Esta é uma das causas principais da falência de algumas amizades ou casamentos, quando as pessoas interessadas não se ligaram a partir de uma simpatia genuína, mas sim com o objetivo de encontrar na outra pessoa um sujeito adequado para desempenhar algum papel complementar.

Se pararmos alguns instantes para considerar os casais que conhecemos, não será difícil encontrar entre eles a "menina" que casou com o "pai" (relação vítima-salvador) ou a mulher que se queixa continuamente do marido, mas nem sequer admite a idéia do divórcio (relação vítima- algoz).

Observemos, então, como vivemos e como a nossa presença influencia a vida daqueles que nos cercam. 


Somos sadios? Serenos? As pessoas ao nosso redor e principalmente as que estão mais próximas, nos apreciam de fato, ou apenas suportam a nossa presença? Nosso cônjuge nos admira? Ele fala bem de nós? Nossos filhos nos consideram como amigos? Quantos amigos de fato verdadeiros e reais temos? Em quantas portas podemos bater no caso de uma situação grave?

SE NÃO FORMOS serenos e não tivermos amigos (reais, não aqueles que só podem ser chamados de colegas ou os que só aparecem pra fazerem média), tentemos considerar que, provavelmente, a nossa posição existencial e o papel que desempenhamos não são os melhores possíveis.

Com efeito, quando o são, temos serenidade, melhor saúde e principalmente 

VERGONHA NA CARA...

E JAMAIS PRECISAREMOS FINGIR QUE SENTIMOS 

PESAR PELA PERDA DE ALGUÉM QUE NÃO TIVEMOS A 

DECENCIA DE PROCURAR E DE PRESTAR 

SOLIDARIEDADE E APOIO CONSTANTE, GENUÍNO E 

DESINTERESSADO EM SEUS ÚLTIMOS 45 DIAS DE VIDA!


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